Aspectos arqueológicos


Todo o Monte Farinha é um verdadeiro santuário de vestígios arqueológicos.
Estão referenciados os Castros: do Castroeiro, do Pré-murado, da Plaina dos Mouros, dos Palhaços, e dos Palhacinhos; o antiquíssimo caminho em calçada medieval subindo desde o lugar de Campos até ao alto; insculturas rupestres de Campos, Rexeiras e Campelo.
Ilídio Araújo publicou um estudo localizando no alto dos Palhaços a famosa cidade do ferro "Cininia ou Caninia", que ousou fazer frente às legiões romanas de Decio Juno Bruto, quando da conquista da Península Ibérica no século II AC.
Contudo, Mondim Basto nunca foi conhecido arqueologicamente, nem nunca despertou interesse a esse nível, exceptuando a incursão de Henrique Botelho que nos finais do séc. XIX, dá conta de dois arqueosítios do concelho ainda hoje por cartografar.

Castro do Crastoeiro na Senhora da Graça

Nesta circunstância, o Castroeiro apenas seria identificado no Verão de 1983, no decorrer dos trabalhos de prospecção de campo realizados no âmbito do Levantamento Arqueológico do concelho, pelo arqueólogo Dr. António Dinis.


Localização
O povoado do Castroeiro situa-se numa pequena elevação e localiza-se no lugar de Campos, na freguesia de Mondim de Basto, muito próximo do limite com a freguesia de Vilar de Ferreiros, no sopé do Monte Farinha.

Acesso
castroQuem pretende subir a Sr.ª da Graça a pé pelo velho caminho dos romeiros, tem ao seu dispor o folheto do percurso pedestre onde está incluída a visita ao Crastoeiro.
Quem pretende subir a Sr.ª da Graça, pela estrada, deve virar à direita na sede do Clube de Parapente. Vai passar por algumas empresas de exploração de granito e logo em baixo aparece a sinalização do Castro.

De salientar o trabalho do arqueólogo A. Pereira Dinis em todo o estudo ligado ao património arqueológico do concelho que assume hoje uma especial importância cultural e um atractivo turístico do concelho. A Câmara Municipal editou em 2005 uma brochura de título "Crastoeiro- Mondim de Basto" , que está, desde essa altura, disponível no Posto de Turismo, cujos textos e imagens são do próprio Dr. Dinis.

A brochura
Identificado no âmbito da elaboração da carta arqueológica do concelho, o Crastoeiro foi alvo de escavações entre 1985-1987 (1ª fase) 1997-1999 (2ª fase). Os trabalhos revelaram diversas estruturas, por vezes sobrepostas, distribuídas por quatro sectores distintos que totalizam uma área de 400 m 2.

A ocupação mais antiga situa-se na Idade do Ferro inicial, apontando-sefossa os meados de séc. IV AC, como data provável. Nesta altura, os habitantes do Crastoeiro construíram cabanas, com materiais perecíveis, de planta circular, e cavaram fossas no saibro para conservarem as bolotas recolectadas e os cereais que cultivavam nos socalcos voltados à ribeira de Campos. A produção cerâmica, exclusivamente manual e de uma forma geral lisa, inclui potes e púcaros ou potinhos.
O registo arqueológico mostra que, durante este período, foram desenvolvidas praticas da metalurgia do ferro, actividade que terá contribuído para o acelerado processo de desflorestação do habitat.

gravurasA descoberta de gravuras rupestres no Crastoeiro mostra que o sítio terá assumido o papel de santuário desenvolvendo-se aí actividades de foro ritual e simbólico.

Por volta do séc. II AC, o povoado transforma-se com a construção de uma imponente muralha, em pedra, demonstrativa de um incremento económico e capacidade organizativa. Embora persista a construção de cabanas, agora revestidas com argamassa de terra e acabamento pintado, começam-se a edificar casas em pedra, de planta circular ou rectangular com os cantos arredondados, por vezes com vestíbulos, conservando-se, porém, os pavimentos de argila e as coberturas em materiais vegetais. Mantendo-se a actividade recolectora e as práticas agrícolas, destaca-se também a pastorícia, talvez de gado lanígero, tal como é indiciado pelo espólio relacionado coma fiação. A cerâmica conhece inovações técnicas, pela utilização da roda, e aumenta o número de formas e a percentagem de recipientes decorados. Continua-se a documentar a produção metalúrgica do ferro e talvez se tenha trabalhado o bronze, fazendo-se uso dos recursos minerais locais.
O abandono do Crastoeiro terá ocorrido nos finais de séc. I, quando secasa_pedra processava a romanização do território. Nesta altura, as habitações, em pedra, evoluem para plantas tendencialmente rectangulares, mas mantêm o conservadorismo das suas coberturas. O espaço envolvente releva a floresta mais rarefeira devido ao desenvolvimento das actividades recolectoras e produtivas. Como nota mais importante salienta-se a maior integração do Crastoeiro na esfera de inter-câmbios supra-regionais tal como é sugerido pelo aparecimento de cerâmicas, moedas e contas de vidro de filiação romana. (Dinis, António Pereira, arqueólogo).

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O Santuário
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No topo do Monte Farinha eleva-se o Santuário da Senhora da Graça, que é, provavelmente, o terceiro templo de culto a ser construído naquele local. Existem documentos históricos que referem que as obras de reedificação foram autorizadas em 1747 e que já estariam concluídas em 1758, embora exista no seu interior uma pedra lavrada que refere a data de 1775.
É o mais bonito, o mais importante e o mais espectacular Santuário Mariano de todo o Trás-os-montes. Um lugar de encanto, de eleição e de grande importância religiosa para os habitantes da Região. Este Monte e o seu Santuário são o ex-libris e o cartão de visita de Mondim de Basto.
O monumento é todo de granito da região, de planta composta por torre sineira quadrangular, nave única octogonal e capela-mor e sacristia rectangulares, em eixo.
O grupo arquitectónico do Santuário é formado pelo Santuário, sacristia e torre sineira. Junto ao Santuário existe uma casa de artigos religiosos. Nesse mesmo espaço funcionou durante muitos anos uma casa de apoio, com quartos e cozinha onde os romeiros pernoitavam e faziam as suas refeições. Também os mesários e padres utilizavam estas instalações porque era de tradição irem de véspera para as festas. Este espaço era também utilizado para fazer casamentos e para outros eventos de carácter social. Em 1936 foi destruído por um incêndio durante o arraial de Santiago e, mais tarde, reconstruído pelo Comendador Alfredo Álvares de Carvalho Pinto Coelho.
À sua volta existe um adro, um conjunto de muros e escadórios e uma praceta para a celebração de missas campais.
Tem uma residência onde vive o ermitão, zelador de todo o Santuário.
A Irmandade de Nossa Senhora da Graça tem promovido, ao longo dos tempos, profundas obras de recuperação de todo os espaços envolventes ao Santuário.
O Reverendo Padre Manuel Joaquim Correia Guedes foi capelão do Santuário e Presidente da Irmandade de Nossa Senhora da Graça durante mais de 40 anos.

As Capelas

capela_anunciacaoNa encosta do monte voltada para norte e para a região de Basto, há três capelas, simbolizando um calvário, que os fiéis gostam de visitar na subida para o Santuário e às quais chamam de "Passos".
Para quem sobe à montanha sagrada, a primeira capela, conhecida como "a capela do fundo", data de 1889 e é dedicada à natalidade de Jesus, expressa pelo presépio. É chamada a Capela da Natividade.
A segunda, referida como "a do meio", data de 1933 e é dedicada à Visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel. É chamada Capela da Visitação ou Capela do Anjo.
A terceira e última, "a capela de cima", data de 1899 e é dedicada à Anunciação do Anjo a Nossa Senhora. É chamada Capela da Anunciação mas que o povo baptiza de Pai Eterno, em virtude da referida imagem estar figurada com maior relevo.

Beneméritos
Merecem especial lembrança todos os beneméritos do actual Santuário, que o edificaram e que ao longo dos tempos o foram enriquecendo com benfeitorias e acessórios.
Em primeiro lugar os anónimos empreendedores da actual edificação. A maior parte deles, provavelmente, emigrantes regressados do Brasil.
Em 1875 aparece uma referência à construção de uma "Casa Nova" destinada a acolher os romeiros. Esta obra foi acompanhada pelo Pe. Rodrigues de Morais, o mesmo que presidiu à reconstrução do Santuário de 1875 e que mandou construir duas das capelas dos Passos na encosta do Santuário. O torreão dos sinos fora oferta de Augusto Alves Teixeira, de Vilar de Ferreiros.

Há ainda, talvez o mais pródigo de todos os benfeitores, cujo nome permanece na memória do concelho, até por ser um ilustre filho da terra - o Comendador Alfredo Álvares de Carvalho, afilhado da própria Senhora da Graça, que mandou reconstruir os aposentos de romeiros e instalações anexas após um violento incêndio num arraial de S. Tiago. Outra das suas muitas benfeitorias foi a exploração e o aqueduto de transporte das águas para abastecimento público da sua terra natal, que foi entregue à Câmara Municipal em 18/02/1932. Duas das actuais imagens da Nossa Senhora da Graça também foram oferta sua.
Em 1933 por iniciativa da Comissão Administrativa do Santuário, presidida pelo Pe. António Guilherme de Queirós Saavedra, foi construída a terceira capela no caminho de acesso ao monte, vulgarmente conhecida pela «Capela do Fundo».
É de salientar também a obra de restauro presidida pelo Pe. Manuel Joaquim Correia Guedes que, durante a sua presidência da Irmandade, se empenhou nos melhoramentos do Santuário.

História
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O Monte Farinha é uma autêntica revelação de dados históricos e arqueológicos que nos remetem para a sua importância estratégica e religiosa desde os tempos mais recuados.
Embora o primeiro documento escrito que a ele se refira, com o nome actual, estar datado de 1115, sabemos que a ocupação humana nas suas vertentes remonta a milhares de anos antes de Cristo.
Vários castros e sítios fortificados estão aqui referenciados, tendo o Castro do Castroeiro sido objecto de estudo e de escavações ao longo dos últimos anos, escavações dirigidas pelo arqueólogo Dr. António Dinis e que nos vêm surpreendendo com importantes descobertas relacionadas com a Idade do Ferro.
A estação de Campelo é um precioso santuário de gravuras e insculturas rupestres que se tem afirmado como importante referência da denominada arte atlântica peninsular. pedra_alta
A “Pedra Alta”, classificada como menhir por muitos especialistas, pressupõe cultos antiquíssimos relacionados com os celtas. O Investigador Ilídio de Araújo defende que os vestígios arqueológicos dos Palhaços correspondem à localização da famosa cidade de “Canínia”, ou Cinínia” que ganhou notoriedade por ter feito frente aos poderosos exércitos do Cônsul Romano Décio Juno Bruto, feito esse relatado por Valério Máximo no seu “Compendio de Ditos e Feitos Memoráveis”. O mesmo autor relaciona os “pharos” ou “pharusos”, povos das tribos semitas e fenícias, adoradores da rainha “Phary” ou “Pharina”, dos egípcios, como os habitantes que viriam a baptizar este ancestral monte de culto.
Outros especialistas defendem que aqui se localizaria o petouto de “Volóbriga”, da tribo celta dos Nemetanos.
Na identificação das paróquias suévicas há investigadores que relacionam a igreja de Palatiaca ou Palantusico com a situação geográfica do Monte Farinha.
A Romaria de São Tiago já referenciada por volta de 1500 estará, provavelmente, relacionada com os caminhos dos peregrinos que demandavam Compostela.

O Monte Farinha

Um dos símbolos mais conhecidos do concelho é o Monte Farinha, no topo do qual se ergue o Santuário da Nossa Senhora da Graça a quase 1000 metros de altitude.
"O Monte Farinha e os altos dos Palhaços e dos Palhacinhos são o principal elemento topológico do concelho. Este Monte, também conhecido como Nossa Senhora da Graça, com a sua forma cónica, relaciona-se com quase todo o concelho, sinalizando-o, dado poder ser avistado, praticamente, de toda a região de Basto". (PDM)

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